O Ayurveda e a Meditação
O Ayurveda é uma filosofia médica oriental que foi desenvolvida no subcontinente indiano há muitas centenas de anos. Nesta racionalidade a mente e o corpo sempre estiveram interligados pois benefícios ao físico influenciam certamente a nossa dimensão mental e o bem estar psicoemocional promove harmonia a fisiologia. Afirma-se que o ser humano é uma árvore invertida, se o objetivo é melhorar à medida que flores e frutos devem-se atuar na raiz da planta. A raiz da pessoa está no sistema nervoso e para acessá-lo deve-se abordar a mente e através da dimensão mental atuamos no cérebro. Isto demonstra claramente que não adianta recomendar medicamentos para a doença física sem abordar os distúrbios mentais que invariavelmente estão associados. O Charaka Samhita, principal texto da clínica médica ayurvédica, afirma “O corpo e a mente específicos o substrato das doenças e da saúde e é a sua utilização equilibrada que torna-se a causa da felicidade”.
A tradição indiana afirma que a mente possui três grandes qualidades ou mahagunas em sânscrito: Sattva traz equilíbrio, paz de espírito, introspecção e autoconhecimento, Rajas promove paixões, desejos, movimento e ação porem Tamas gera inércia, escuridão, preguiça e embotamento. Apesar de ser claro a necessidade das 3 qualidades para nossas atividades diárias o Ayurveda recomenda que devemos aumentar Sattva e diminuir Rajas e Tamas. Mais uma vez retornamos ao Charaka que ensina: “Os fatores patogênicos do corpo são os Doshas Vata, Pitta e Kapha, enquanto as causas do adoecimento da mente são Rajas e Tamas”. Mais adiante este autor refere; “…os fatores patogênicos da mente são apaziguados por sabedoria espiritual, estudo das escrituras, paciência, memória e meditação”.
Desde os anos 1970 que a ciência ocidental vem explorando os benefícios físicos e mentais de uma prática regular e bem orientada de meditação. Foram realizadas centenas de pesquisas, em muitos países, que apontaram para os seguintes efeitos positivos do método: maior estabilidade emocional, aumento da espontaneidade, diminuição dos quadros de ansiedade e depressão, redução da dependência por drogas, benefícios importantes para a memória, inteligência e a criatividade, desenvolvimento da concentração, melhora a qualidade do sono, aumenta a vitalidade, diminui a pressão arterial em hipertensos, redução de estresse e doenças psicossomáticas, alívio de dores crônicas, melhora o tempo de resposta e a coordenação e diminuiu a frequência dos quadros de asma e reações alérgicas. Lawrence Leshan autor do livro “ How to Meditate” afirma de forma contundente: “…A meditação parece produzir um estado fisiológico de relaxamento profundo conjugado a um estado mental desesperado e altamente alerta…O estado fisiológico produzido pela meditação parece ser oposto ao estado produzido pela ansiedade ou pela raiva”.
O autor Victor N. Davich em seu interessante livro “O Melhor Guia para a Meditação” afirma “Quanto mais meditação fazer mais você irá entrar em contato consigo mesmo e por consequência mais consciente ficará do que faz a cada momento” . A meditação silenciosa é a arte do autoconhecimento, mas para atingirmos o estado de meditação profunda é necessária uma regularidade diária na prática e também, não menos importante, a orientação de um professor experiente e bem intencional. Algo que funciona para mim é ter um cantinho de meditação e me comprometer a sentar diariamente, duas vezes ao dia, manha e noite neste espaço. Mas porque duas vezes? A meditação da manhã prepara a mente para as atividades do dia, porem a introspecção noturna dissolve as ansiedades e traz consigo o estresse diário e promove um sono mais reparador. O melhor é praticar antes das refeições ou pelo menos duas horas após a comida. As melhores meditações que eu tive foram com fome, ou seja, com o estomago totalmente vazio.
Afirma-se que “a reprodução é a mãe da habilidade” e este ditado está relacionado à prática da meditação. Quanto mais eu pratico melhor fica a minha introspecção. Na minha rotina diária utilizo duas metodologias: a respiração e o uso do mantra. A respiração é algo que está disponível a todos o que torna-se simples porem muito eficaz. Já o mantra é uma ferramenta poderosa para a transcendência. Na Índia, quando o aluno recebe o mantra do professor é chamado de “guru-mantra” e este deve apenas ir da boca do preceptor para o ouvido do estudante, ou seja, não deve ser divulgado. Meu instrutor indiano me ensinou a repetir o mantra 108 vezes a partir do ajna chakra ou terceiro olho. Com a repetição da prática a mente torna-se mais calma, uma mente tranquila é mais técnica e o aumento da concentração gera uma mente muito mais eficiente. Então além de melhorar a saúde física e mental a meditação também deixa a mente mais eficiente e melhor capacitada para resolver problemas. Termino com as palavras do incomparável mestre Yogananda autor do belíssimo livro “Autobiografia de um Iogue”: “Mergulhe novamente e novamente no oceano da meditação e captura as pérolas da comunhão abençoada”.
Aderson Moreira da Rocha, médico de família, reumatologista, especialista em acupuntura pela Associação Médica Brasileira e especialista em Ayurveda pela Arya Vaidya Pharmacy e Associação Brasileira de Ayurveda. Tel: (21) 25373251, Acesse: www.ayurveda.com.br

Médico de família, reumatologista, acupunturista e especialista em Ayurveda pela Arya Vaidya Phramacy, tradicional escola de Ayurveda do sul da Índia. Mestre e doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ, presidente da Associação Brasileira de Ayurveda e autor do livro “A Tradição do Ayurveda” pela editora Águia Dourada.

Aderson Moreira Da Rocha
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