A Medicina Integrativa propõe uma nova abordagem no tratamento das doenças. No século XX a visão era mais sectária: ou utilizávamos a alopatia ou éramos adeptos da homeopatia, ou fazíamos tratamento com Medicina Ocidental ou buscávamos a visão da Medicina Oriental.  No século XXI ocorre uma mudança de paradigma, com um modelo que não é excludente mas complementar. A Medicina Integrativa associa todas as possibilidades de promover a saúde do ser humano.  Fundamentada em evidências científicas, o olhar não é mais apenas da doença mas também da pessoa que busca uma promoção da saúde.  Esta abordagem já é utilizada em importantes hospitais e universidades, nos Estados Unidos, devido as prevalentes pesquisas que apresentam um melhor resultado terapêutico comparativamente ao método convencional, que apenas olha o adoecimento.

“Medicina Integrativa é a prática da medicina que reafirma a importância da relação entre o paciente e o profissional de saúde. Ela é focada na pessoa, em seu todo, apoiada por evidências, e faz uso de todas as abordagens terapêuticas adequadas, com profissionais e disciplinas para obter o melhor da saúde e cura (health and healing). A medicina integrativa propõe uma parceria do profissional e seu paciente para a manutenção da saúde. Começa, assim, por colocar o paciente como ator principal no processo, como seu próprio agente de saúde. O paciente deixa de receber passivamente o tratamento para uma doença e passa a participar ativamente da própria saúde. A saúde torna-se, também, uma responsabilidade individual.”  (www.einstein.br,   site do Hospital Albert Einstein)

O Ayurveda contribui para este modelo integrativo através da fitoterapia e suas importantes pesquisas na área da saúde. Nos últimos anos muitas evidencias cientificas tem sido demonstradas para confirmar o uso das plantas medicinais orientais e ocidentais no tratamento e prevenção das enfermidades. Não podemos esquecer que, até meados do século XX, as plantas eram a base da maioria dos medicamentos. Neste artigo citaremos algumas ervas da Medicina Indiana, e suas indicações mais comuns, assim como as pesquisas feitas no ocidente e oriente.

  1. Açafrão da terra ou Cúrcuma longa: Apresenta uma poderosa ação antioxidante e desintoxicante. O açafrão da terra tem recebido destaque na literatura ocidental devido ao seu principio ativo curcumina, um potente antioxidante e anti-inflamatório. Através de centenas de estudos em animais e seres humanos observou-se que a curcumina tem efeito benéfico em mais de 70 alterações distintas, incluindo algumas dos principais problemas de saúde, como: câncer, doenças cardio-vasculares, diabetes e doença de Alzheimer.  O prof. Bharat Aggarwal PhD, no seu interessante livro “Healing Spices”, afirma que a Curcuma longa pode prevenir ou tratar os seguintes distúrbios: acne, alergias, doença de Alzheimer, artrites, asma, câncer, colite, depressão, diabetes, eczema, infecções oculares, flatulência, gota, doenças cardio-vasculares, coceira, doenças do fígado, sobrepeso, dor, doença de Parkinson, psoríase, esclerodermia e ferimentos.  Atividade Anticancer: no periódico Menopause, uma pesquisa em mulheres em uso de terapia de reposição hormonal ( fator de risco para câncer de mama) observou-se  uma diminuição do risco de câncer de mama ao associar-se o uso da curcumina. Em outro estudo, publicado no periódico Cancer Research, o uso de curcumina teve efeito positivo no controle da progressão do câncer de próstata. Pesquisas demonstraram que os tipos de câncer mais comuns (pulmão, mama, colon e próstata) são 10 vezes menores na Índia (onde a cúrcuma é largamente utilizada na culinária) do que nos EUA.   Atividade anti-Alzheimer: nos últimos 25 anos a incidência de doença de Alzheimer dobrou nos EUA, mas também, em quase todo planeta, com exceção da Índia que afeta menos de um por cento da população. A razão da baixíssima incidência de Alzheimer, pode estar relacionado com a utilização do açafrão da terra como um dos principais condimentos da culinária indiana.
  2. Ashwagandha Ou Withania somnifera: Uma das plantas medicinais mais utilizadas no Ayurveda. Tem este nome por que suas raízes frescas tem o cheiro semelhante a urina de cavalo. Ashwa significa cavalo e gandha quer dizer cheiro. Esta erva é muito popular e foi chamada de “ginseng indiano” pelas suas propriedades rejuvenescedoras (rasayana) e afrodisíacas (vajikarana), pois aumenta o vigor sexual e vitalidade. Alem disto é considerado um potente antiinflamatório e antireumático. A Ashwagandha é considerada um poderoso adaptógeno (antiestresse), tem um efeito calmante, melhora o sono, alivia estresse e ansiedade. Apresenta efeito anabólico, ou seja, promove o tônus e massa muscular. Afirma-se que auxilia o coração pois possui um efeito diurético suave e é um depurador do sangue. Nos quadros respiratórios é utilizada com mel para aliviar a tosse e a mucosidade. Pesquisas recentes demonstram efeito imunomodulador (beneficia o sistema imunológico) e anti-tumoral.
  3. Canela ou Cinnamomum zeylanicum: Muito utilizada na Medicina Indiana, apresenta as seguintes Indicações: gripes, tosse, secreção, bronquite, má digestão (dispepsia), flatulência, diarreia, reumatismo, má circulação, extremidades frias, infertilidade, disfunção erétil, cólicas menstruais, endometriose. O prof. Bharat Aggarwal PhD, no seu interessante livro “Healing Spices”, afirma que a canela pode prevenir ou tratar os seguintes distúrbios e doenças: câncer, diabetes, doença do coração e hipertensão arterial, síndrome metabólica, aumento de triglicerídeos, úlcera péptica e candidíase vaginal.
  4. Erva doce ou Foeniculum vulgare: Os médicos ayurvedicos utilizam a erva doce para melhorar a digestão, eliminar toxinas (amapachana) e aliviar gases (carminativo).  Indicações: má digestão (dispepsia), cólicas intestinais, flatulência, insônia e nervosismo, dificuldades na menstruação, leite materno insuficiente, disfunção erétil, infecção urinária. O prof. Bharat Aggarwal PhD,  no seu interessante livro “Healing Spices”, afirma que a erva doce (Foeniculum vulgare) pode prevenir ou tratar os seguintes distúrbios e doenças: artrite, câncer, cólicas, colite, doença de alzhheimer e demência senil, glaucoma, doença do coração, hipertensão arterial e cólica menstrual. Atividade analgésica na menstruação: um concentrado de erva doce foi utilizado em mulheres com cólicas menstruais (dismenorréia) com resposta terapêutica positiva. Atividade anti-colite: 24 paciente com colite crônica, não especifica, foram tratados com a planta medicinal e após 15 dias tiveram uma melhora de 95,83%. Atividade estrogênica: pesquisa em laboratório com ratas sem o ovário, ocorreu um efeito estrogênico positivo através de aumento das glândulas mamarias, endométrio, miométrio, cervix e vagina.
  5. Gengibre ou Zingiberis officinale: O gengibre é uma das plantas medicinais mais utilizadas na fitoterapia, já no Ayurveda é conhecido como remédio universal e é reverenciado em todo planeta por suas importantes propriedades culinárias e terapêuticas. Indicações: gripes, secreção, tosse, bronquite, reumatismo, artrose, má digestão, náuseas e vômitos, flatulência, cólicas menstruais, disfunção erétil e cefaléias.  O prof. Bharat Aggarwal PhD,  no seu interessante livro “Healing Spices”, afirma que o gengibre pode prevenir ou tratar os seguintes distúrbios e doenças: artrite, asma, câncer, enxaqueca, má digestão, náuseas e triglicerídeos aumentados.

Neste artigo, introdutório, citamos algumas das plantas medicinais mais usadas no Ayurveda em uma abordagem integrativa. Podemos notar que muitas pesquisas demonstram evidencias importantes do uso das ervas na promoção da saúde, prevenção e tratamento das principais doenças ocidentais. Acreditamos que temos uma verdadeira farmácia na natureza com um potencial enorme que ainda é pouco utilizado pelos profissionais de saúde. Finalmente citamos a afirmação do Charaka Samhita, principal tratado de clínica médica ayurvédica: : “Não existe nada no mundo que não possua utilidade terapêutica quando aplicado na condição e situação adequada”.

Prof dr Aderson Moreira da Rocha, médico de família, reumatologista, especialista em acupuntura e Ayurveda. Diretor científico da Associação Brasileira de Ayurveda. Tel: (21) 25373251. Visite: www.ayurveda.com.br

Aderson Moreira Da Rocha
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